Evidência em saúde 2020 discute desafios e soluções para implementação de diretrizes clínicas
- Publicado: 18 Novembro 2020
Um dos temas centrais do evento "Evidência em Saúde 2020 - Da informação à implementação: desafios e novas tecnologias" foi a implementação de diretrizes clínicas por profissionais de saúde, gestores e pacientes. O encontro, promovido pelo Hospital Moinhos de Vento (HMV), de Porto Alegre, em parceria com o Departamento de Gestão e Incorporação de Tecnologias e Inovação em Saúde (DGITIS/MS), por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS), reuniu palestrantes nacionais e internacionais com expertise no tema para propor caminhos para aumentar a adesão às recomendações baseadas em evidências e aprimorar o cuidado em saúde.
Mais de mil participantes, entre acadêmicos, metodologistas, gestores em saúde, entre outros profissionais da área, acompanharam a programação online nos dias 11 e 12 de novembro. Foi a quarta edição do congresso que se propôs a discutir o tema, considerando o contexto da pandemia mundial causada pela Covid-19.
Diretrizes Clínicas são documentos baseados em evidência científica que objetivam orientar o diagnóstico, tratamento, controle clínico, acompanhamento e verificação dos resultados terapêuticos a serem seguidos pelos gestores, pacientes e profissionais de saúde. A implementação de diretrizes é um dos focos de ações propostas pela secretaria-executiva da Conitec com hospitais de excelência, a exemplo da existente com o HMV.
Para Corah Prado, coordenadora geral de Gestão de Tecnologias em Saúde, do DGITIS, os temas trazidos na programação são atuais e relevantes para gestores e profissionais envolvidos na avaliação de tecnologias em saúde. A gestora destaca que, nos últimos anos, o departamento avançou na sistematização do processo de elaboração das diretrizes e que agora tem como desafio a implementação desses documentos. "Sabemos da dimensão do SUS e da importância da elaboração e implementação de diretrizes para orientar o cuidado em saúde. Por isso, desejamos que as experiências trazidas aqui nesses dois dias sejam aproveitadas por cada profissional, dentro da sua realidade." destacou.
Desafios e soluções para implementação de diretrizes
Entre as apresentações, destaca-se a participação da professora Vilanice Püschel, do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP) e diretora do Centro Brasileiro para o Cuidado à Saúde Informado por Evidências: Centro de Excelência do JBI (JBI – Brasil).
Püschel trouxe a experiência do JBI Evidence-Based Clinical Fellowship Program (Implementação de Evidências em Saúde) na implementação de diretrizes clínicas. Para ela, "colocar informações apropriadas nas mãos daqueles que determinam políticas e que prestam cuidados em saúde é fundamental para melhorar os resultados em saúde", afirmou. Durante a sua apresentação, a professora ressaltou que as práticas em saúde tendem variar e os custos associados aos cuidados em saúde estão cada vez mais caros e, por isso, a decisão baseada em evidências aponta caminhos para que a tomada de decisão siga critérios explícitos e conscientes.
Ela afirmou que, embora se saiba sobre a importância das evidências em subsidiar decisões em saúde, ainda é baixa adesão a essas recomendações. A professora aponta algumas barreiras para a prática informada por evidências, como, por exemplo, ausência de recursos, de capacidade técnica para implementar recomendações, além da falta de conhecimento sobre as melhores práticas, tanto por profissionais como por pacientes.
Nesse contexto, a apresentação da professora Nancy Santesso, do Departamento de Métodos, Evidências e Impacto de Pesquisa em Saúde na McMaster University, Canadá, aponta possibilidades para envolvimento de pacientes e usuários dos serviços de saúde no processo de elaboração das diretrizes. Para ela, a participação desses no painel de especialistas, em grupos de trabalho ou nas evidências consideradas para elaboração de cada documento pode resultar em diretrizes que respondam mais às necessidades dos pacientes e, por isso, sejam de mais fácil implementação.
Esse ponto também foi abordado na apresentação da professora Anna Gagliardi, da Universidade de Toronto. A pesquisadora, que tem se concentrado em otimizar o desenvolvimento e a implementação de diretrizes e o envolvimento do paciente e das demais partes interessadas neste processo, trouxe algumas ferramentas apreendidas em sua pesquisa. Para ela, devem ser incluídos nas diretrizes ferramentas que facilitem sua implementação, tanto por gestores, como profissionais de saúde e pacientes.
O evento
A programação contou ainda com nomes como Amir Qaseem, vice-presidente da American College of Physicians (ACP) evidence-based medicine and clinical practice guidelines program, Holger Schünemann, professor de medicina na McMaster da University (Canadá) entre outros. No término de todas as apresentações, nos dois dias, participantes puderam enviar perguntas aos palestrantes e participar de uma mesa redonda ao vivo.
Para a líder do projeto Diretrizes no Hospital Moinhos de Vento, Veronica Colpani, o encontro permitiu que questões sobre recomendações em situações de poucas evidências fossem aprofundadas. "É importante termos boas diretrizes, com as melhores evidências, e mais: que esses documentos cheguem ao profissional lá na ponta", destacou a especialista.
O evento foi gravado e pode ser acessado nos links a seguir, dia 11 e dia 12. Fique atento ao site da REBRATS e acompanhe informações sobre capacitações em ATS.